“ARnatomia Patológica”

Instalação “ARnatomia Patológica”
Abstract: Projeto que relaciona práticas artísticas em Realidade Aumentada com novas formas de visualizar e interagir com imagens macroscópicas e histológicas de lesões tumorais. Acarreta o desenvolvimento de uma interface, bem como de uma aplicação computacional específica, que permita uma exibição imagética tridimensional interativa alternativa, em tempo real, de tecidos orgânicos nas sucessivas etapas de processamento e diagnóstico, praticadas no Serviço de Anatomia Patológica do IPO de Coimbra.
Por um lado, as suas aplicações podem traduzir-se no âmbito do ensino, bem como em campanhas de sensibilização para um público-alvo e pretendem promover, por outro, um questionamento mais profundo, que vai para além das imediatas estratégias de representação implícitas, definindo-se nas relações de proximidade entre ciência/arte potenciadoras do re-actuar de imagens e processos em diferentes contextos.
Os trabalhos iniciaram-se com os seguintes objetivos: explorar e produzir novas formas e sistemas de visualização tridimensional de tecidos orgânicos; investigar e desenvolver práticas inovadoras na interação com a imagem combinando estudos da Arte, do Design e da Biomedicina; criar artefactos que possam ser usados pelo público em geral sensibilizando-o para determinadas metodologias de trabalho no Serviço de Anatomia Patológica do IPO de Coimbra; desenvolver projetos de carácter artístico e de design em torno da temática e tecnologias exploradas, apresentando os projetos em conferências e em espaços culturais de destaque – onde se destaca o desenvolvimento de um manual interativo em Realidade Aumentada.

Keywords: Realidade aumentada, Anatomia patológica, Medicina, Arte e Ciência.

Foram apresentadas publicamente duas versões do primeiro artefacto desenvolvido. A primeira ocorreu em Outubro de 2011, no Museu da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e inseriu-se na exposição “ORALIDADE, FUTURO DA ARTE?” dos alunos de doutoramento do curso de Arte e Design. O propósito da instalação foi, em grande medida, o questionar do valor do objeto/imagem fora do seu contexto institucional científico, privilegiando-se uma fruição/interação mais próxima e subjetiva do mérito estético.
Longe do contexto laboratorial o artefacto deu lugar a novas leituras, desta feita com pressupostos culturais em detrimento da estrutura de análise original. Não existindo um roteiro nem instruções, apenas sugestões de organização implícitas nas formas das peças, potenciando assim novos imaginários e narrativas.
A segunda versão e exibição pública teve lugar no CAE – Centro de Artes e Espetáculos – Figueira da FOZ – no XIII Congresso de Anatomia Patológica | 2012. Aqui o artefacto apresentou-se com ligeiras alterações morfológicas em relação à primeira exibição, sendo que, a interação das peças recorreu às lâminas de vidro originais com marcadores fiduciais de ambos os lados. O dispositivo foi instalado juntamente com outras peças de cariz museológico e científico que estruturavam as diversas etapas na evolução de estratégias de análise macro e microscópica. Sobre o olhar científico, a interpretação foi de valor epistemológico, despertando a curiosidade sobre a sua viabilidade prática em implementações futuras.

A terceira vertente deste trabalho, como já referimos, incidiu sobre a produção de um pequeno manual (ver anexo) sustentado por uma aplicação em RA que se encontra disponível para ser utilizado em campanhas de sensibilização e ações de rastreio.
Todavia, o valor imediato deste projeto pode ser reforçado em contextos diretamente ligados ao ensino, permitindo uma interação com morfologias e texturas laboratoriais, que em todas as etapas da metodologia da anatomia patológica presentes, seriam difíceis de obter simultaneamente com recurso peças reais. O que em termos de logística poderá ser bastante útil, pois permite o acesso a informação privilegiada a baixo custo para um grande número de pessoas.
O projeto ARnatomia patológica encontrou terreno fértil no contexto laboratorial, não apenas por permitir estabelecer uma correlação direta entre modelos tridimensionais e tecidos reais, bem como por permitir revelar as etapas, de forma inovadora, de uma prática extremamente especializada que, por motivos técnicos, raramente é exibida fora do contexto laboratorial.
Devido à aplicabilidade da nova perspetiva que se estabeleceu, para além de alcançarmos os objetivos que estiveram na génese do projeto, o design do manual “Controlo do Risco em Saúde”- que só por si já constitui uma valiosa base de dados tridimensional (até então inexistente) poderá permitir, em futuras versões, ser útil não apenas em ações de rastreio e sensibilização, como fornecer ao estudante patologista a possibilidade uma interpretação volumétrica de lesões em RA – o que, por exemplo, poderia reduzir de formação de novos técnicos auxiliares de anatomia patológica.
A abordagem direcionada e ajustada aos médicos especialistas que compunham a equipa possibilitou, em contexto de laboratório, a construção de conhecimento mais profundo acerca dos métodos praticados pelos técnicos, os seus predicados, bem como a estrutura do seu modelo mental. Sendo que, estes foram os verdadeiros alicerces que orientaram a conceção do design dos artefactos e do software. Desenvolvimento que se estabeleceu em torno de um diálogo sustentado acerca da forma como a imagética e as técnicas da anatomia patológica podem levar a repensar o estatuto cultural do corpo e as suas vicissitudes fisiológicas.

Esta investigação deu origem à seguinte publicação:
Eliseu, S., Monteiro, M. (2012). Projecto ARnatomia Patológica. In: Artech 2012. Conference on Digital Arts and New Media. Faro: Artech International. PP. 385-388.

Encontra-se na totalidade e em detalhe na seguinte tese:
Eliseu, S. (2016). O mundo como uma CAVE – Estratégias Narrativas em Realidade Aumentada. Tese de doutoramento. Faculdade de Belas Artes, Universidade do Porto: Porto. https://hdl.handle.net/10216/102648.